Carta para a Rita Leevre

Você partiu, prefiro pensar que está livre, que voa com Peter Pan, que foi fazer o passeio que tanto queria no disco-voador. Não está mais aqui, creio até que generosamente vinha nos preparando para esse temido momento, quando deixou os palcos e foi rareando nos trabalhos musicais, sem abandonar a arte. Isso seria impossível. A menina que queria ser atriz possuindo múltiplos talentos, percebeu que podia compor, daí um passo para escrever livros, crônicas... e mais outro para ilustrar as próprias narrativas, como fez em Dropz. Inteligentíssima como você só, dirigiu suas últimas cenas no que pode... o velório no Planetário do Ibirapuera, parque do qual tanto gostava, possivelmente receberá as tuas cinzas. Livre. Longe dos rótulos, dos julgamentos, de vampirizações, perto do ar, do mato, da vida simples que a hippie sempre prezou. (...) "fazer um pouco de tudo, vender a alma pra poder comprar o meu mundo" (Ambição), essa música é a sua cara, uma pessoa inconformada com a limitação do planetinha ordinário, querendo transformar o próprio mundo e o de todxs. Quem passou por você e não saiu um ser humano melhor e mais talentoso, não aprendeu nada mesmo. Saudade. Tristeza não tem fim, o Brasil sem vosmecê entra definitivamente na quarta-feira de cinzas, fui testemunha do quanto que você lutou para nos tirar dessa pasmaceira de um país tão injusto e desigual, com o Carnaval de todo o dia que propunha, deixando tudo mais leve e ao mesmo tempo profundo, mesmo nos anos de chumbo. Você não gostava do mês de agosto, eu nunca gostei de maio. Agora eu sei porque, maio levou você.

Tô aqui traçando essas mal traçadas linhas torcendo para você estar com Bivar, Bart e Elis. Beijos, continuarei a minha miLEEtância (palavra que você gostava quando eu citava) aqui da Terra, nesse carinhoso (e desatualizado) bloguinho, mas eu sei que você me entende. Já ia me esquecendo, hey Cidadã Carioca, vais virar nome de praça aqui no Rio, cidade que você tanto amou e cantou. Te amo.