domingo, 5 de junho de 2016

Rita Lee mora ao lado encerra temporada no Rio de Janeiro

São coisas da vida! Há dois anos em cartaz, aquele sonho que cresceu - a biografia escrita e adaptada para o teatro -, do meu amigo Henrique Bartsch, chegou ao fim no Rio de Janeiro... no mês em que ele faria 65 anos e no mesmo Junho em que lançou o livro, há dez anos, em São Paulo. São coisas da vida! A cada vitória obtida pelo musical, eu vibrava e pensava: puxa, como o Henrique ficaria feliz com isso! 
Eu, que tive a sorte de acompanhar a batalha que foi esta adaptação, a captação de recursos, que assisti ao primeiro ensaio aberto, que tenho a honra de ter tido o meu nome citado nos Agradecimentos do Programa da peça,  participo, também, do momento solene do seu encerramento, após uma temporada de sucesso, que por dois anos percorreu o Brasil.
Ter assistido e procurado registrar em imagens, enquanto  me debulhava em lágrimas (verdade seja dita, não apenas eu!), com a mesma velha câmera Sony comprada em 2007, com a qual fotografei e contei tantos shows da Rita  e outros momentos com ela nestes 10 anos de Blog, não deixa de ser uma volta mágica aos dias maravilhosos em que as noites ficavam mais bonitas por irmos a outro show de Rita Lee... e nem de ser uma merecida homenagem ao "Bart".
"Um belo dia, resolvi mudar! E fazer tudo o que eu queria fazer. Me libertei daquela vida vulgar, que eu levava estando junto à você." (Abertura do musical com "Agora só falta você")
Bárbara Farniente, já em 1997 (a biografia finaliza quando Rita completa 50 anos), tenta entregar para a Rita o famoso baú colecionado por sua mãe, que era apaixonada por Seu Charles (pai da "magrela") e vizinha, após inúmeras tentativas de assistir às apresentações dela (na tv, na escola, em ginásios), sem sucesso. Tentando convencer o segurança a deixá-la entrar antes do show começar...
Farniente tenta dar uma de Sherazade, narrando a própria história tecida durante todo este tempo, a fim de comprovar o real merecimento de entregar aquelas lembranças para a Rita, no caso, o segurança funciona como o seu leitor, assim como o é quem lê a biografia alucinada da rainha do rock. Inicia contando sobre o voyeurismo de sua mãe, Diva, pela família Lee Jones, que começou com o encontro, em Rio Claro, do americano Charles e a italiana Romilda, em plena festa de Carnaval.
Dessa união nasceu Rita Lee Jones, a filha mais nova do casal, que foi matriculada, como as outras irmãs, no tradicional Colégio Liceu Pasteur, na Vila Mariana, tradicional demais para seu gênio criativo e teatral, mas é lá que ela descobre Elvis Presley e o rock.
A menina Rita escondia a roupa do show debaixo da camisola, jantava com a família, subia candidamente como se fosse se recolher e se lançava pela janela. Uma crise de apendicite revelou o truque para a família. Depois da cirurgia, acamada em casa, para a sua surpresa, ao invés da bronca do severo pai ganhou um violão e um pedido dele: "Faça as pessoas felizes, minha filha".
Com o estímulo, após ganhar uma bateria pelo aniversário de 15 anos, formou um grupo só de meninas, o Teenagers Singers, até conhecer os irmãos Baptista, fundindo o Wood Faces com as Teenagers, derivando daí, em uma brincadeira caipira, o grupo O'Seis, que depois viraria Os Bruxos. O nome foi rebatizado por Ronnie Von como "Os Mutantes", o trio se apresentou no "Pequeno mundo de Ronnie Von", entre outros programas.

Convidados por Gilberto Gil para acompanhá-lo no Festival da Record, defendendo "Domingo no Parque", Os Mutantes passaram a fazer parte da Tropicália, movimento que recuperou o Modernismo Brasileiro, na presença de nomes como Torquato Neto, Rogério Duprat, Rogério Duarte, Tom Zé, entre tantos outros.

Na boite Sucata, no Rio de Janeiro, em apresentação tropicalista de 1968 na qual participaram, além de Gil e Os Mutantes, Caetano Veloso, Nara Leão e outros, o ato de se enrolar na bandeira nacional foi considerado subversivo pela ditadura militar. Aliado a isso, o programa "Divino Maravilhoso" também provocava os militares. Após o Ato Institucional Nr 5, Chico e Caetano foram presos e Os Mutantes escaparam por pouco...

Em 1971, Arnaldo Baptista e Rita se casaram e comparecem ao Programa Hebe Camargo, acompanhados de Sérgio Dias, para rasgar a certidão de casamento no ar. Dona Romilda Chezinha, entretanto, providenciou uma segunda via...
Após a dramática expulsão de Rita do grupo, em 1972, se juntou a Lúcia Turnbull, em 1973, para formarem as Cilibrinas do Éden. Ainda este ano, resolveu retornar ao band rock organizando o Tutti Frutti, que por imposição de André Midani, boss de sua gravadora, ficou batizado Rita Lee & Tutti Frutti. O seu figurino se tornou mais sensual, procurando deixar para trás a imagem de menina mutante.

Tanto ela, quanto Tim Maia, ficaram insatisfeitos com os rumos das carreiras dentro da Polygram... 
Em 1975, trocou de gravadora, indo para a Som Livre e, com o álbum "Fruto Proibido", estourou em todo o Brasil. Um ano depois, começou romance com o músico Roberto de Carvalho, da banda de Ney Matogrosso.
Convidado para ir à casa dela, ao som de "Objeto voador não identificado", com a presença de Gal Costa, o romance se iniciou.
Ao descobrir que estava grávida, telefonou para Roberto para avisar que teria o bebê como "produção independente", entretanto, foi presa acusada por "porte de droga" inexistente naquele momento em que largara tudo para cuidar de sua gestação. Na cela, na qual recebeu muito apoio dos outros detentos, passou mal, quase abortando. Recebeu a visita de Elis Regina, que levou o filho pequeno, João Marcelo, enfrentando a repressão ao reivindicar melhor tratamento para a Rita na cadeia.
"Alô, alô, marciano, aqui quem fala é da Terra..."

Condenada, mas podendo cumprir a pena em prisão domiciliar, Roberto (ainda morando no Rio), a visitava todas as semanas na casa dos pais, onde ela voltara a viver após a sua casa da Rua Pelotas ter sido, praticamente, destruída.
Ao lado de Roberto, os álbuns de 78, 79 e 80 vão em uma crescente de sucessos. Rita vira paixão nacional e é convidada, por João Gilberto, a participar do seu Especial para a Rede Globo, em 1980, cantando "Jou Jou balangandãs".
Paralelamente ao sucesso que fazia, as perdas familiares eram o contraponto... A primeira foi Mary, a irmã mais velha (1980)...
Depois, os falecimentos de seu pai (1983) e sua mãe (1986). Esta história era contada por Bárbara, que conseguiu sensibilizar o segurança e entrar para falar com Rita. Ao resumir a história dela e de sua mãe, após ser confundida, por ela, com uma fã, Rita comentou: "Orra meu, eu já conheci muita gente doida, mas você está de parabéns! Nossa, onde é que você conseguiu tudo isso???!!!...".
Bárbara argumenta que entregou o baú para ela a fim de se libertar da maldição. Rita levanta e diz "Bárbara, Bárbara, nunca é tarde, nunca é demais! Eu vou acabar com essa porra dessa maldição!" E vamos ao show... "Suspenderam os jardins da Babilônia, eu pra não ficar por baixo resolvi botar as asas para fora, porque... Quem nem chora dali, não mama daqui, diz o ditado. Quem pode, pode, deixa os acomodados que se incomodem!"

E assim terminou o Rita Lee mora ao lado, um livro que o Bart nunca imaginou que iria escrever, uma peça que ninguém imaginou que iria conseguir fazer e uma artista, interpretada por Mel Lisboa, que os fãs conseguiram ver em números musicais com os quais jamais sonhariam! E quem quiser continuar o sonho, é só adquirir o livro, lançado pela editora Panda Books!
Ao elenco e produção, nosso comovido obrigada.

2 comentários:

  1. Leendo Post, Norma. O elenco é realmente primoroso. E o desejo do Bart realizado é tudo que a gente queria e esperava!!! Vamos torcer pela possibilidade da turnê aqui no Rio se estender!

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  2. Não tive a oportunidade de assistir, mas acredito que foi Leendo.
    Parabéns pelo texto, Norma. Abs.

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