Norma Lima: 50 anos de carreira com corpinho de 20,
heim? Bora lembrar de alguns fatos dos milhares lindos da sua trajetória, amor
nosso?
Rita Lee: Norma Lima sempre gentil… corpinho d 20? sim,
em cada célula…
Norma Lima: Aos 15 anos, um vestido preto de baile e
depois uma bateria… Isso é missão de amor aqui no Planeta Terra, né?
Rita Lee: Ela queria mesmo é aparecer, aquela tolinha.
Norma Lima: Tenho registrado nos meus arquivos
fãzísticos que a sua primeira apresentação foi ainda como Danny, com Chester
& Ginny, em um aniversário no quarteirão do seu bairro (Vila Mariana - SP).
E rolou no mesmo ano da solo feita no Liceu Pasteur, com você e violão,
interpretando Tous les garçons, de Françoise Hardy, no ano de 1964. Você lembra
disso?
Rita Lee: Me lembro do trio catástrofe Danny Chester
and Ginny, os 3 patetas pop d Vila Mariana, o resto vc sabe mais q eu, ou
invente como quiser, n vou negar no tribunal.
Norma Lima: Assinar o seu nome como Danny ou Ritta,
no início da carreira, era uma tentativa de separar o seu eu artístico do seu
mim?
Rita Lee: Achava "Rita" meio brega,
sorridente demais, queria algo mais dark… Danny era nome da minha adorada
cachorra e nessas eu dancei.
Norma Lima: Já na sua primeira experiência no cinema,
ganhou um papel que ia além da apresentação com Os Mutantes, na cena do filme
Amorosas, de 68, pois a sua personagem flerta com a de Paulo José. Você já
disse por aí que seu sonho mesmo era ser atriz. Você é uma cantriz, né?
Rita Lee: Costumo dizer q há 50 anos faço papel d
cantora.
Norma Lima: Ainda sobre cinema, você e Roberto já
fizeram belas trilhas também para o cinema e o teatro. A dupla completa 35 anos
de parceria musical, tendo estreado em Babilônia, com Disco Voador. Como foi
compor essa canção com ele?
Rita Lee: Um presente extraterrestre, uma parceria das
esferas. Eu estava amamentando Beto qdo Rob avistou bem na frente da nossa
janela uma luz paradona no céu e me chamou. Aparição inspiradora.
Norma Lima: Você sempre é lembrada por sua abordagem
de temas cujo foco é a independência das mulheres. Esperava que a canção Agora
só falta você fosse considerada um hino feminista da década de 70?
Rita Lee: O universo paralelo feminino é fascinante, o
mundo na visão das fêmeas é outro planeta, na maluquice da cabeça delas, vc
encontra d santas putas a malditas heroínas.
Norma Lima: Participou, uma vez, de uma Exposição, a
Pintores de Domingo, na Galeria de Sampa, com seu desenho Bobo da Corte, em
1979, outra vez da Mostra Caderno do Artista, em 1994. É uma desenhista e
tanto, não pensa em expor seus desenhos inspirados de novo? O dos Beatles,
publicado no álbum Aqui, ali, em qualquer lugar, até hoje deixa a todos de
queixo caído…
Rita Lee: Menos, Norma Lima… no desenho sou ainda mais
canastrona q na música
Norma Lima: Como foi isso de ter um gol batizado com
o seu nome, pelo Casagrande, do seu time do coração, o Corinthians, e marcado
aos 41 minutos do segundo tempo?
Rita Lee: Um orgasmo regado a confete e serpentina… na
época lança perfume já era proibido e vc sabe q eu sempre fui uma moça d
família…
Norma Lima: Em 1985, foi divulgada, no jornal O
Globo, a notícia de que fostes a compositora mais censurada do Brasil, desde
1980, com 14 músicas vetadas até então… e depois ainda implicaram com Pega
Rapaz, em 87 e não citaram as dos Mutantes… Censura nunca mais, né?
Rita Lee: Pois é, vc deve conhecer o Gui… ele foi até o
DOI CODI e ressuscitou uma pá d letras censuradas q eu nem sabia q existiam! Os
comentários d dona Solange, da Censura, nos documentos são pérolas da sociedade
indignada, hilários…
Norma Lima: Você foi tema ou citada com elogios em
textos de grandes nomes, como Caio Fernando Abreu, Arnaldo Jabor, Rubem Braga,
Mário Prata, Martha Medeiros, Glauber Rocha e outros. Como se sente com a
afirmação de Caio Fernando Abreu, por exemplo, de que a sua obra é tão
importante quanto a de Caetano, Gil e Chico para a Cultura Brasileira? E a de
Glauber, que te chamava de Cacilda Becker da Nova Era?
Rita Lee: Eles é q são gênios e eu ganho a fama?
Norma Lima: Além de cantar, compor, desenhar,
representar, você também escreve. Foram vários textos para a imprensa nestes
anos todos, além da série Dr Alex, cuja motivação foi, além de inventar
historinhas pra filho dormir, como declarou em uma de suas entrevistas, você
também teve e tem a preocupação com a preservação do planeta, bem antes disso
virar uma moda, pois faz do Dr Alex um defensor dos bichinhos. Disse que a luta
dele incomodava a alguns que nunca quiseram muita liberdade e muita alegria. É
isso que a sua obra sempre trouxe para o Brasil, né? Liberdade e alegria.
Rita Lee: Quisera eu q fosse só assim… existe tb meu
lado prisioneiro e deprê comum a todo ser humano vivo, mas q n deixa d ser
inspirador.
Norma Lima: Pioneira em mostrar beijo gay no clipe
Obrigado, não; no selinho trocado na tv com a saudosa e querida Hebe, ambos em
1997 e também no selinho dado em uma fã, por ocasião do show feito no Morro da
Urca em 2006, Rio de Janeiro, e mostrado no DVD Biograffiti. Sempre brigando
com o establishment, não?
Rita Lee: Esse tal de establishment nunca foi c/ a
minha cara, mto patriarcal.
Norma Lima: Como você explica essa tal de Rita Lee
chegar a tantos e tantas, nesses 50 anos, conservando os antigos e conquistando
novos fãs? Todas as gerações são Lee, pois diariamente leio tweets de jovens,
adultos e velhos cantarolando canções do seu mais recente e delicioso álbum
Reza, declarando-se a você, afirmando que que querem ser como você amanhã…
Rita Lee: Fãs são filhos gauches, a gratidão por
gostarem d mim me deixa sem fôlego… inda bem q volta e meia fujo p/ o twitter
conversar c/ eles… twitter é mágica moderna, a melhor companhia p/ um coração
solitário feito o meu.
Norma Lima: Apesar de você não ser saudosista, quero
que saiba que é uma honra sermos seus fãs e olharmos para a sua trajetória tão
digna, bem como contá-la para os novinhos que chegam sempre e sempre, com
admiração sincera por você. Muito obrigada é pouco, pela entrevista que tão
gentilmente topou dar pelo aniversário do nosso humilde Fã Clube, e por tudo
que já fez por nós aqui no Brasil. Quando falei com você pela primeira vez,
você usava uma blusa com os dizeres Music saves, de fato, a sua canção nos
salvou e salva sempre. We love you.
Rita Lee: Cuide bem dessas crianças do Universo q tanto
carinho me dão, diga a elas q vovó Ritinha está preparando uma fornada d musiquinhas
novas p/ tomar c/ chá. Bisou to you.