Descobri Rita Lee com 11 anos, quando
estourou o álbum Fruto Proibido e as canções dela passaram a fazer parte das
trilhas de novelas globais. Eu , menina de escola municipal do bairro suburbano
de Madureira, também moradora em outro bairro de subúrbio (Pilares), filha de policial
militar com dona de casa, garota classe média baixa cuja vida se resumia a ir
de casa para a escola, nunca frequentei cursinhos, muito menos de inglês, por
isso me incomodava nada entender das letras das canções que minhas colegas
roqueiras gostavam - Led Zepelin, Suzy Quatro e outros.
O ROQUE de Rita, traduzido gentilmente
para a língua portuguesa, repleto de poesia e toques, no meio da rebeldia e da
ousadia que a caracteriza até hoje, me pegou como flecha certeira no coração.
"Babe, babe, não adianta chamar", "Esse tal de Roque
Enrow". Ela aportuguesava o inglês no melhor estilo modernista
antropofágico e passou a alegrar as minhas retinas tão fatigadas, nas
participações que fazia no Globo de Ouro, Fantástico e outros, com suas roupas de fantasias e bailados em cena hipnotizantes.
Passei a encher a paciência da minha pobre
mãe para me levar nos shows dela, como a grana lá em casa era artigo de luxo
(eu nem tinha discos da Rita, pedia emprestado para ouvir na minha vitrola
portátil Philips), depois de muito sacrifa, consegui ganhar o ingresso para a
matinê do Refestança (1977). Ressalte-se de que quando a descobri, a temporada
do Teatro João Caetano já tinha rolado, e no ano seguinte, quando ela ainda
preparava a do Entradas e Bandeiras, foi absurdamente presa, ficou cerca de 15 dias atrás das grades e mais um ano na prisão domiciliar, de forma que os seus shows rarearam, ficando restritos a SP, pois ela precisava pedir autorização de juiz, tirar sangue e outras humilhações do gênero. A volta triunfal se deu com Gilberto Gil Giló e eu, de posse do meu
suado ingresso, fiquei sabendo no dia em que realizaria o meu sonho, que o show
fora cancelado, por haver caído, na noite anterior, parte do cenário em pleno
show. O jeito foi me contentar em ouvir uma entrevista que ela deu para a Rádio Globo...
A essa altura eu já tinha recebido foto
autografada (abril, 1977) e meu pai resolveu que no próximo ele mesmo me
levaria... Isso ocorreria em 7/7/1978, na estreia de Babilônia, no Teatro
Tereza Rachel, em Copacabana. Desde este dia, o mundo ficou diferente e eu
passei a ir em todos os shows que ela fazia no Rio de Janeiro, pois nunca tive dinheiro para viajar até SP ou para outros estados somente para vê-la.
Algumas décadas depois, em 2006, impactada
pela leitura da biografia Rita Lee mora ao lado (estive na sessão de autógrafos),
recém-separada e ganhando pouco no emprego, resolvi fazer a loucura de seguir
Rita por todo o Brasil. Não preciso dizer que deixava de fazer várias outras
coisas para poder estar ali, bem como tinha que encarar bicos e horas
extras para rodar de busão e de avião por aí. No início, nem câmera decente eu
tinha, pois isso, alguns shows não foram registrados dignamente. A partir de
2007, comprei uma que foi a minha companheira de shows, até
2013, quando ela se retirou dos palcos. Muitos brincavam que aquela câmera
tinha visto mais a Rita do que eles. Foram dias mágicos, que trago de volta,
publicando 70 em homenagem à nossa artista septuagenária.
Voltar os olhos sobre estas imagens me causou muita emoção e recordações que guardo e trago no peito e na alma. Em todas constam as datas e as cidades originais, de uns tempos para cá, modifiquei a marca d´água tirando todas as informações, que, entretanto, permanecem nos posts originais que publiquei neste blog, com a finalidade de compartilhar os shows com fãs de todo o Brasil e do exterior. São registros e relatos preciosos das últimas apresentações dela nas regiões Sudeste, Nordeste, Norte, Centro Oeste e Sul para fazer muita gente feLEEz.
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