Lar, novo lar, e agora retomando a série de posts sobre os Especiais de Rita Lee feitos para a TV aberta, iniciados com o Rita Lee Jones (Rede Globo, 07/11/1980 - Publicado no post de 04/03/2012); Saúde (Rede Globo, 11/12/1981 - Publicado no post de 25/03/2012); O Circo (Rede Globo 10/12/1982 - Publicado no post de 01/05/2012); Rita e Roberto (Rede Globo 13/12/1985 - Publicado no post de 31/07/2012); Rita Lee e Roberto Tour 87/88 (Rede Manchete 20/12/1987 - Publicado no post de 27/08/2012), falaremos sobre A Marca da Zorra, que foi ao ar no dia 07/11/1995, pelo Programa Som Brasil, Rede Globo. Perceberam? Quinze anos depois, na mesma data do primeiro, o último Especial produzido pela Globo!
Rita Lee em "A Marca da Zorra" (Show)
Direção Musical e Arranjos: Roberto de Carvalho
Direção Geral: Leonardo Netto
Músicos: Paulo Zinner (bateria); Lee Marcucci (baixo); Ronaldo Paschoa (guitarra e vocal); Fábio Recco (teclados e vocal); Virgínia Lee (vocal).
Participação especial: Roberto de Carvalho (guitarra e vocal)
Cenário e figurinos: Chico Spinoza
Técnico de PA: Wagner Baldinato
Técnico de Monitor: Paulo Farat
Iluminação: Sílvio Francisco
Produção Executiva: Cláudia Moog
Assistente de Produção: Cíntia de Carvalho
Ass. Cenários e Figurinos: Karin Wyler
Ass. Pessoal de Miss Lee: Virgínia Lee
Roadies: Oswaldo Thomaz Jr, Ricardo Bellini, Adriano Colono
Cenotécnico: César Ribeiro
Som: Gabisom
Luz: Lucifer
Projeção: Gregory Brown
Arte Gráfica: Tony Cid
Para o Especial da Rede Globo, a equipe técnica foi a abaixo:
Músicos: Fábio Recco; Lee Marcucci; Paulo Zinner; Roberto de Carvalho; Ronaldo Paschoa; Virgínia Lee
Arranjos: Roberto de Carvalho
Equipe de Produção: Simone Lamosa, Marcelo Romano, Rodrigo Leão
Edição: Henrique Tartarotti, Ivo Alves
Roteiro: Jodele Larcher, Leonardo Netto
Cenografia: Chico Spinoza
Figurinos: Chico Spinoza e Cláudio Carpenter
Câmeras: Evandson Pimentel, Fernando Cruz, Franscisco Melo Filho, Glicério Mariano, Márcio Salim, Márcio Torres, Solano Marques, Willian Garcez
Direção de fotografia: José Guerra
Desenho de luz: Césio Lima, Danny Nolan
Computação gráfica: Toni Cid Guimarães
Sonoplastia: Octávio Lacerda
Produção musical do show: Paulo Henrique
Direção musical: Mariozinho Rocha
Direção de imagens: Helmar Sérgio, Mário Meirelles
Direção do show: Jodele Larcher e Mário Meireles
Direção geral: Márcio Vip Antonucci
Antes de irmos para os finalmentes, como esse Especial saiu de uma série de shows, cuja estréia foi no Rio de Janeiro, seguindo depois para São Paulo, Norte, Nordeste e exterior, vale a pena citarmos um pouco deste percurso, até porque o que foi levado ao ar teve outra proposta, inclusive reunindo vários outros artistas que não participaram do show. Como também foi um dos espetáculos mais premiados de Rita e Roberto, comecemos pelo início.
Segundo divulgação de Ivone Kassu, de 07/07/1995, anunciando a temporada para o Canecão (de 27 a 30 de julho e de 03 a 06 de agosto),
"Miss Lee, depois de virar a MPB do avesso em seu namoro ultra bem sucedido com a bossa nova,... montou uma banda de rock... e está detonando novos e antigos hits... Inclui criações inesquecíveis da dupla Rita/Roberto de Carvalho como Papai me empresta o carro, Vítima (tema da novela A Próxima Vítima, da Rede Globo), Doce Vampiro e Mania de Você. Passa pela fase solo de Rita com canções como Mamãe Natureza e Ovelha Negra. Resgata rock geniais dos Mutantes como Ando meio desligado. Além, é claro, da música que dá título ao show, um rockão de arrepiar os cabelos. E tem mais: em Miss Brasil 2000, uma surpresa de tirar o fôlego está reservada para o público.
Tudo isso com direito à participação luxuosa de Roberto de Carvalho na direção musical e na guitarra... e... tchã-tchã-tchã-tchã... Virgínia Lee, irmã de Rita, que estréia no palco fazendo o vocais de fundo."
Foram inúmeras entrevistas dadas a jornais, revistas, canais de tv abertas, fechadas, dadas por Rita em função desta turnê, consultei-as em meus arquivos e fiz uma síntese. O show, muito comparado ao Babilônia (1978) por seu teor teatral e devido às inúmeras trocas de roupa feitas durante a apresentação, surpreendeu por ineditismos e ousadias, dentre as quais duas se destacaram: o número de ilusionismo durante "Ando meio desligado", em que ela levitava e a presença da modelo nua durante Miss Brasil 2000, que já tinha ocorrido na Tour Flerte Fatal, mas que agora Rita abria com o convite de não ser feito por uma pessoa específica, como era a idéia desde o início, aliás, pois até Adriana Calcanhoto, que Rita viu em uma apresentação em um bar de Porto Alegre, foi convidada a fazer o número e topou. Em entrevistas ela dizia sempre "eu abri para travestis, drag queens, homens... Enfim, quem quiser fazer o papel da Miss Brasil tem que ser uma pessoa muito bonita, generosa e que se mostre..." (International Magazine) queria Roberta Close, travestis, transsexuais, embora achasse que pudesse ser censurada. Durante a canção "Vítima", da qual Rita sempre gostara do álbum de 85, mas que só se destacara 15 anos depois por ser abertura de uma novela global, também o espírito moderno dela se manifestava na presença da tecnologia, que mostrava um helicóptero em vídeo, já trazendo recursos de mídia ainda pouco vistos naqueles primórdios do computador no Brasil.
Descrevendo um pouco do que rolava no show, ele abria com Rita cantando A Marca da Zorra, "com roupas de vampira e tendo como cenário um castelo mal assombrado". Em "Ando meio desligado", o já citado número de levitação, ela vinha com uma enorme capa preta, envolvida em muita fumaça.
Em "Vítima", como uma detetive de filme noir da década de 50, com sobretudo, chapéu e cigarro no canto da boca. Após essa canção, ela saía de cena para troca de roupa e ficava no palco Roberto, cantando "Papai, me empresta o carro", ela retornava com Atlântida, coberta por um pano branco. O set list seguia por "Mamãe Natureza", "Ovelha Negra", "Miss Brasil 2000", "On the rocks", "Bobos da Corte", "Meu doce Vampiro" e fechava com "A Marca da Zorra".
O show foi gravado ao vivo no Rio de Janeiro e lançado em CD, no mesmo ano em que os álbuns dela foram relançados. Em suas participações em programas como o do Faustão (Rede Globo) ou Jô Soares (SBT) estes álbuns relançados foram mostrados pelos apresentadores, naquelas entrevistas, o espetáculo já estava no Palace, onde ficou 3 semanas em cartaz.
Foto: Rita e Jô, tirada do meu dvd A marca da Zorra (nunca lançado).
Ela revelava que passava graxa de carro no cabelo para manter o penteado despenteado, citava sempre comparações deste trabalho com o anterior (Bossa'n roll, curiosamente sem citar o álbum de 1993, que não foi trabalhado em show).
O Especial "A Marca da Zorra", apresentado na televisão, modificou bastante o show. Havia a presença de artistas convidados: Barão Vermelho, Fernanda Abreu, Marisa Monte, Pato Fu, Planet Hemp e Raimundos com a proposta de fazer uma revisão dos 30 anos de rock no Brasil, além da inserção do número que ela fizera com Gal Costa, no show do Riocentro em 1991 (RJ), com Mania de você, sobre Gal ela brincou "Eu sou sempre amiga das melhores cantoras do Brasil..." Essa música é continuada para o momento Marca da Zorra, na qual é interpretada com ela segurando uma toalha. É o momento em que ela fala da importância de seu parceiro Roberto de Carvalho. Há também o depoimento de Caetano Veloso, citado por Rita como um dos seus professores de composição musical na época tropicalista, ele disse: "Desde que conheci a Rita aqui em São Paulo eu acho ela mais moderna do que todos no Brasil", ao que ela retrucou: "É o namorado que todas nós gostaríamos de ter." Após essa fala, a canção que ela interpreta é "On the rocks". Antes dos números musicais, sozinha ou acompanhada pelos referidos artistas, ela comentava sobre as canções. Havia alguns clipes também, como o "Lança Perfume", apresentado no Fantástico, no qual ela andava de patins, "Todas as mulheres do mundo" (no qual ela comenta a importância de Leila Diniz sempre lembrando do vestido da novela que usou no Festival), veiculado pela MTV, "Alô, alô marciano" e "Baila comigo", ambos da época do Bossa'n roll. O público, que assistiu a gravação em pé, era privilegiado em closes e na interação de Rita.
Frejat e Roberto interpretam "Papai me empresta o carro", com ela na bateria. (Foto do meu DVD A marca da Zorra)
Com "Desculpe o auê", ela encena Wanderléa, sintonizada com a proposta de revisão da Jovem Guarda. O Barão Vermelho interpreta "Jardins da Babilônia".Explica o processo de criação da canção "Ando meio desligado", da fase Mutantes, e permanece o número de levitação.
Nos depoimentos dados, ela reitera a sua causa pelos animais, aliás, era constante a presença de seu cão Pingo nessa época, o qual, inclusive, ilustrou camiseta dada a Jô na ocasião da entrevista:
É nessa fase também que ela participa, no Consulado da Espanha, de um protesto contra as touradas, o qual foi bastante divulgado em revistas da época. Para homenagear a Natureza, canta com Marisa Monte, "Mamãe Natureza".
Na canção "Vítima", a qual ela considera bastante cinematográfica, ela teatralizava um crime e escolheu o baterista Paulo Zinner para ser apunhalado. Seguem as participações dos convidados, com Fernanda Abreu, com Rita homenageando os cariocas vestidas de... Zé Carioca. A participação do Planet Hemp com "Esse tal de Rock'n roll" a fez vestir-se de funkeiro meio rap; (ela frisa que o rock já foi mais desacato à autoridade, estando agora mais para situação). Afirma ser o Pato Fu os herdeiros de Os Mutantes e els aparecem, dando uma palhinha da canção "Rita Lee", gravada pelos próprios Mutantes nos anos 60. Antes de receber Raimundos para cantarem juntos "Ando Jururu", ela revela que conhecera os grupo através dos seus filhos.
O final do Especial marca a reunião de Rita com todos os convidados cantando "Orra Meu", ela vestida de Bobo da Corte. Como sempre, este Especial não foi lançado, somente o Rita Lee Jones foi pela Trama. O próximo e último da série Especiais para Tv aberta é o 3001, na Rede Bandeirantes.
Das várias entrevistas que li e assisti dela para escrever este post, destaco a da Revista Manchete, de 26/08/1995.
O jornalista Renato Sérgio assim se posicionou com relação à ela:
"ginga de antiestrela, à prova de paparicações. Sua capacidade de surpreender é uma das marcas mas registradas na música popular deste país, neste nosso tempo".
"Rita declara: Sinto que tenho uma idade constante dentro de mim. Desde que fiz 17 anos não deixo de ter estes 17 na hora em que preciso deles."
"Rita vidente diz: Filha não dá mais, mas uma netinha eu hei de ter com certeza. E deixa ela comigo." (Isso dez anos antes do nascimento de Izabella!!!!!!!!!)
"Rita conclui: Quando começo a pensar no que passou, nunca chego a conclusão se já fiz muitas coisas ou se simplesmente ainda não fiz nada."
Vale ressaltar que A Marca da Zorra ganhou três premiações no Prêmio Sharp de Música: Melhor show, Melhor Cantora, Melhor CD.
Rita e Roberto, no dia da premiação: